Tânia Sousa Store
“É uma coisa que eu gosto e por isso ainda não desisti”
Tânia Sousa aproveitou o desemprego para fazer uma grande mudança de vida. Carregava consigo o sonho de ter um negócio próprio e de ter mais tempo para acompanhar a filha e isso levou-a, em 2018, a criar a sua própria loja on-line de vestuário e calçado. O melhor ano até agora foi 2022, em que nos últimos meses do ano vendeu mais do que naquele ano inteiro. Como conselhos para colegas empreendedores, avisa que é preciso fazer muita pesquisa e obter o máximo de informação sobre o negócio que se quer criar e sublinha que é indispensável nunca parar de evoluir.
Tânia Sousa ficou desempregada em 2017 e aproveitou o subsídio que foi amealhando para comprar as primeiras peças de roupa para o novo negócio. “Comecei a investir aos poucos e recorri à ALPE para me ajudarem na parte burocrática do negócio, para perceber o que tinha de fazer”, diz Tânia Sousa. Aproveitou a experiência que tinha a trabalhar em lojas de vestuário e sapatarias, a par com muitos outros trabalhos variados que executou, e lançou-se naquele que era um sonho antigo. “Sempre quis ter algo meu e era uma área que me interessava e que eu gostava. Não precisava de um investimento grande, então aproveitei que estava parada e arrisquei. Seguia algumas lojas on-line, naquela altura estavam a surgir muitas no Facebook, e comprei peças inicialmente a fornecedores nacionais”, conta, acrescentando que continuou a usufruir, no primeiro ano de atividade aberta, do subsídio de desemprego através da modalidade que atribuiu este apoio aos empreendedores.
Trabalhar por conta própria permitiu-lhe também resolver duas outras questões. Atenuou o problema de saúde crónico, pois o stress da pressão de trabalhar por conta de outrem desapareceu, e permitiu-lhe ser mãe, em 2019, e acompanhar a filha nos primeiros anos de vida. “Tem muitas vantagens a nível familiar, podemos fazer coisas que se estivéssemos a trabalhar por conta de outrem não era possível. Pude acompanhar a minha filha até ela entrar na pré-escola e não há dinheiro que pague isso. Assisti a tudo e isso deixou-me mais tranquila e satisfeita”, afirma. Definitivamente, uma das maiores vantagens de ser empreendedora. “Trabalhar por conta própria também tem os seus momentos de stress, mas os problemas vão-se resolvendo. Se não der hoje, dá amanhã, e assim vou cumprindo este gosto”, refere.
Tânia Sousa frisa que “este não é um negócio para enriquecer”, e por isso “tantos fecham”, mas que “apesar de não extrair grande lucro, vai dando para viver. É uma coisa que eu gosto e por isso ainda não desisti”, comenta. O melhor ano até agora? 2022. “As vendas dispararam, nos últimos dois meses do ano, com as compras de Natal, faturei mais do que nos restantes meses todos juntos, o que fez com que excedesse o limite anual”, diz. A nível de fornecedores, recorre muito a Espanha e França, fruto de uma pesquisa que fez na altura da pandemia. Vai comprando à peça, o que lhe permite uma melhor gestão de stock e evita prejuízos. “Consigo comprar mediante os pedidos. Tenho acesso às fotografias dos artigos e, através das fotografias, promovo os artigos nas minhas páginas de redes sociais. Comecei a vender no Facebook, maioritariamente para pessoas entre os 40 e os 50 anos, mas hoje o meu principal canal de venda é o Instagram. Desde a pandemia, comecei a apostar em publicidade paga no Instagram e resulta muito bem, vendo maioritariamente para a faixa etária dos 18-35 anos, o que vai mais ao encontro das peças que eu vendo. Especializo-me em malhas, tenho muita variedade, e nesta altura do ano vendo muito casacos e camisolas de malha”, afirma.
A empreendedora alerta para o aspeto volátil de ter um negócio e de como é preciso estar constantemente a adaptar-se. “Ter negócios próprios tem muito que se lhe diga. 2023 não teve nada a ver com o ano anterior, então voltei a estar no regime de isenção de IVA. Ainda trabalho com um fornecedor nacional, na área do calçado, mas, como ele aumentou muito os preços, não me compensa, o preço de venda ao público fica muito elevado e o cliente encontra em lojas físicas o artigo a um preço menor”, revela. Queixa-se da carga fiscal e frisa que lidar com a instabilidade do negócio só lhe é possível porque tem um bom suporte familiar. “Não ganho tanto dinheiro como o meu marido, não tenho subsídio de férias e Natal, é sempre uma incerteza, tem de se saber conviver com isso. Se algum dia não der, posso sempre continuar com a Tânia Sousa Store como um extra, dá para conciliar. Felizmente, tenho o meu marido que ganha bem, se ganhasse o salário mínimo não conseguiria. Isto dá para o meu dia-a-dia, mas uns meses ganha-se mais e outros menos. Há meses que vamos um pouco mais abaixo e outros que compensa e ganha-se ânimo. Janeiro e fevereiro são dos piores meses, por causa dos saldos com os quais não consigo competir. E agosto também, porque vai tudo de férias”, refere.
Para futuros empreendedores, Tânia Sousa tem dois conselhos: pesquisar e evoluir. “Primeiro, informar-se muito bem. Quando abri atividade, não sabia nem metade. Fui pesquisando sozinha, perguntando e sempre interessada em saber mais. Estou sempre a aprender, por exemplo, só esta semana é que fiquei a saber que não posso exceder os 10 mil euros em compras intracomunitárias, senão tenho de passar para um regime diferente. Quem não souber estas coisas é surpreendido com multas. Informem-se sobre as leis: o que têm direito, o que podem fazer, o que não podem”, sugere, prosseguindo: “Depois não fiquem parados, não se pode estar sempre no mesmo patamar. Pesquisem novas ideias e continuem a evoluir. No início, não vendia peças com tanta qualidade como vendo hoje. Vendia peças que outras lojas também vendiam, não havia surpresa para o cliente e ele escolhia o mais barato. Agora tenho peças que não existem noutras lojas e isso deixa-me mais à vontade, porque o cliente gosta e adquire a peça porque não a viu noutro lugar”.