"Vai com tudo!", diz a Natália, "Quem vai com ela, vai bem", diz o Napoleão.
A coragem de criar um lugar chamado Nós
Há amores que se completam, outros que se aguentam. E depois há o Napoleão e a Natália, que vão juntos. Conhecer este casal é entender, logo na primeira conversa, que há qualquer coisa na forma como se escutam, como dão as mãos, que faz com que tudo à volta se reconcilie com a vida.
A Natália chegou primeiro à Casa dos Choupos. Disseram-lhe que talvez fosse bom sair de casa. Respirar outros ares. Não estava bem, nem no silêncio, nem no burburinho. Teve apoio psicológico, frequenta a oficina de cantares tradicionais e as aulas de yoga, e tudo isto foi ajudando. Voltou a sensação de ter o seu lugar na vida. E quando canta para os outros, sente paz. O Napoleão veio depois. Primeiro ficou à porta. Depois entrou e nunca mais saiu. É um amigo que participa, ajuda, canta, e parece feliz, porque a sua Natália está melhor. “Tudo o que ela quiser, eu faço”.
Tiveram dois filhos, o mais velho mora longe, o outro está mais presente. “A minha cabeça é que me atraiçoa”, diz a Natália, “mas tenho um marido maravilhoso que é o meu chão”. E tem também as memórias do afeto da família que vive nos retratos que decoram as divisões da casa (o tal lugar chamado Nós). A saúde já não acompanha a força de vontade. Mas eles enfrentam tudo como sempre fizeram: juntos.
O Napoleão teve uma vida de trabalho e partilha, com orgulho, “estou cansado, mas continuo a fazer muitas coisas, gosto de ajudar”. Natália cresceu numa aldeia onde a estrada parava no meio do nada e as crianças corriam com chinelos feitos de folhas de castanheiro. Guardava cabras a sonhar com pão torrado com manteiga. Provou muitos anos depois, quando saiu para o local onde viria a casar. Viu a mãe sofrer com muitas portas fechadas. E mesmo assim, nunca perdeu a ternura nem a capacidade de sonhar.
A história deste casamento começou há quase 50 anos. Conheceram-se em Arrifana. Eram vizinhos. A vida juntou-os cedo e nunca mais os separou. Começaram do zero, construíram a casa, criaram os filhos, fizeram crescer uma rua inteira com a família. Sempre juntos.
Agradecemos aos dois a generosidade com que se envolvem com a Casa. O Napoleão relembrou a sua “arte” e lançou mãos à colocação do novo abrigo. E se a bondade viesse em primeiro lugar? O Napoleão estava lá. Ele e o seu amor, que também reaprende a cuidar-se.
E quando perguntamos Como vai a tua vida?, a resposta vem com um sorriso: “vai com tudo”. Vai com esperança. Vai com amor.


