Gustavo, como vai a tua vida?
Gustavo Fonseca tem 20 anos e está a construir um projeto para o seu futuro.
O dia começa bem cedo na Garagem de Arrifana (Grupo EMAC). Gustavo chega às oito, cumprimenta os colegas, verifica os agendamentos do dia, calça as luvas e inicia o ritual de limpeza. Lava, aspira, seca, dá brilho. Mas também prepara automóveis novos para entrega ao cliente. Tem de verificar os manuais de utilização, coletes, triângulos, confirmar a chave suplente, etc, etc. Se estiver tudo em ordem, passa para a lavagem à luva, sem escovas! É uma espécie de técnico de bastidores, responsável por garantir que tudo brilha antes de subir o pano!
Desde miúdo que os dias seguiam com tranquilidade: escola, amigos, planos para o futuro. Com apenas 16 anos, um acidente redesenhou o seu trajeto. Alterou os ritmos e as rotinas, e trouxe uma nova forma, nem sempre justa, de ser olhado pelos outros.
Visitou a Casa dos Choupos durante este processo. Descobriu um espaço para experimentar, aprender, conviver e voltar a acreditar em si. Na oficina de improvisação musical, deu som ao que trazia em silêncio. Foi pássaro que desejou voar com o nosso bando. “Uma experiência fenomenal”, resume, com a simplicidade de quem ainda está meio surpreendido por ter gostado tanto. “Fico com pena de não poder continuar.”
Esta foi só a primeira etapa. Depois chegou o Trampolim, uma ação do projeto Chão Fértil que é, na prática, aquilo que o nome promete: um programa de desenvolvimento de competências para a integração profissional, social e pessoal de pessoas em situação de desemprego (e com diversidades cognitivas e funcionais), enquanto sensibiliza entidades empregadoras locais para as medidas de emprego e inclusão. Foi neste contexto que o Gustavo encontrou o seu primeiro emprego. E chegou já com vontade de ficar!
Luís Tavares, responsável da empresa, recorda-se bem do dia em que o conheceu e como se processou esta contratação relâmpago. Precisava de alguém com urgência. “Marcámos uma entrevista e quando o Gustavo chegou, já vinha pronto para trabalhar. Perguntei-lhe: Queres começar? E ele: Sim, já estou preparado. E foi logo a andar.” Agora faz parte da equipa e "nós queremos continuar a contar com ele. O Gustavo não se limita a fazer o que lhe pedem. Quer perceber como tudo funciona. Já mostrou interesse por mecatrónica, ajuda noutros sectores. Acho que tem muita margem para crescer aqui dentro, vejo-lhe futuro”.
Não há final feliz nesta história. Porque, felizmente, a história ainda não acabou. Desde julho que o Gustavo continua a levantar-se de manhã cedo para ir trabalhar. E olha para o futuro com serenidade (e aquele humor sem pose que o caracteriza): “na altura achei que era uma pequena vitória, mas, pensando bem… foi uma grande vitória.”